Será queo modo como a nossa escola, principalmente nos anos de escolaridade finais, irá superar a sua dificuldade de trabalhar em grupo?
Será que a formação oferecida aos docentes, tanto no que se refere a inicial e continuada o formará para isto?
Teremos os investimentos nas políticas públicas para tal?
Como a tecnologia, principalmente as da comunicação devem estar presentes no ensino? Até quando será postergado esse debate?
Professor do futuro será um designer de currículo, afirma especialista
Educador passará a ter a responsabilidade de ser o guia de sua classe
O
termo é desconhecido no Brasil, mas é bom você já ir se familiarizando
com ele. O professor tradicional – esse com o qual estudamos anos e que
conhecemos hoje – vem gradativamente se transformando no que em algumas
escolas por aqui, mas mais intensamente nos Estados Unidos, chamam de
designer de currículo. A principal função desse “novo” profissional está
a de desenvolver currículos e projetos interdisciplinares, integrando
às novas tecnologias. “O professor designer de currículo é a expressão
maior e mais completa do mestre contemporâneo. Vai além de ministrar o
conteúdo estrito senso, mas é também responsável por preparar o educando
para o hábito de aprender a aprender, desenvolvendo habilidades de
aprendizagem que são consideradas imprescindíveis aos profissionais e
cidadãos em um mundo centrado na inovação”, afirma Ronaldo Mota,
ex-secretário Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e atualmente professor
visitante do Instituto de Educação da Universidade de Londres.
Esses profissionais tanto podem se dedicar
exclusivamente ao design de currículo quanto podem ser professores que
intercalam essa função com sua prática de sala de aula. De acordo com
Mota, eles poderão, por exemplo, criar portais interativos para abrigar
suas videoaulas e outros recursos multimídia ou ainda estimular os
estudantes para que criem seus próprios blogs. Os portais poderão servir
como ambientes – além da sala de aula – para relação permanente entre o
educador e os educandos, bem como os educandos entre si.
O professor tradicional gradativamente se transformará no designer educacional
Ronaldo Mota
professor visitante do Instituto de Educação da Universidade de Londres
Mota, que também foi Secretário Nacional de Educação
Superior, aponta como outra nova demanda desses designers de currículo a
criação de Moocs (Massive Open On-line Course, cursos on-line gratuitos
e em grande escala) . “Isso vai ser uma enorme revolução, uma vez que o
professor tradicional gradativamente se transformará no designer
educacional, que vai precisar dominar a tecnologia para produzir essas
aulas”, afirma.
Mas nem tudo é tecnologia. Em escolas onde o modelo
vigente inclui aprendizado baseado por projeto, por exemplo, esse
profissional cria aulas que envolvem ações transdisciplinares. Na
norte-americana High Tech High, que desenvolve esse modelo de ensino, os
docentes se reúnem diariamente para discutir como um determinado
conteúdo pode se tornar um projeto que envolva a sua disciplina e as dos
demais docentes. Um dos pilares da instituição é exatamente ter o
professor como um designer, função que empodera o educador e lhe dá a
responsabilidade de ser o guia de sua classe.
Na instituição, as aulas são estruturadas em blocos mais
longos – ao contrário dos tradicionais tempos de 50 minutos – com o
intuito de integrar o currículo, unificando as matérias e facilitando o
aprendizado dos estudantes. Física e matemática são ensinadas juntas,
assim como história, filosofia e língua inglesa são aglomeradas em única
disciplina: humanidades. “Acreditamos na integração do currículo. Em
vez de ir a uma aula de história e uma de inglês, o aluno tem um
professor de humanidades. A escola tem um time de professores
trabalhando para criar projetos juntos. Existe um aluno que aprende
colaborativamente, com tutores virtuais, sozinhos, com material impresso
ou não. Nós damos a ele a oportunidade de estudar em cada uma dessas
modalidades, de acordo com o que cada um precisa”, afirmou Melissa
Agudelo durante o Transformar 2013.
Assim como na High Tech High, a rede Summit Public
Schools – grupo de escolas californianas que está ajudando jovens de
famílias pobres a ingressar na universidade – usa momentos sistemáticos
de encontros entre docentes para fazer o design de seu currículo. Nas
escolas, os professores desenvolvem projetos de aprendizado
interdisciplinares, que normalmente associam as disciplinas curriculares
ao cotidiano dos estudantes, para que façam sentido ao que estão
aprendendo, com o objetivo de fazê-los pensar criticamente, além de
desenvolver suas habilidades cognitivas.
O futuro da aprendizagem é o nosso futuro. O
verdadeiro desafio de quem está desenhando um processo de aprendizado é
preparar os alunos para um mundo que não podemos ainda imaginar como vai
ser
Brian Waniewski
diretor de gestão do Institute of Play
A rede também está construindo sua própria plataforma de
aprendizado on-line e são os professores os responsáveis por inserir
conteúdos nesse ambiente virtual. A partir do próximo semestre, as
escolas Summit vão adotar o modelo de blended learning – conhecido
também como ensino híbrido – o que irá ajudar os designers de currículo a
trabalharem mais integradamente, já que precisarão se elaborar juntos
os conteúdos baseados tanto em ferramentas on-line quanto em momentos
presenciais.
Esses encontros também acontecem, semanalmente, na
Quest to Learn
– escola pública de NY onde os conteúdos são todos trabalhados por meio
de games. Em vez de reuniões entre professores e professores, outros
profissionais – como coordenadores pedagógicos e designers de games
também – se juntam para a criação do currículo escolar, que é integrado e
repensado para levar experiências que estejam associadas ao mundo real.
Para Brian Waniewski, diretor de gestão do
Institute of Play
que aplica a metodologia na escola, esses professores são os
responsáveis por redesenhar a experiência do aprendizado. “O futuro da
aprendizagem é o nosso futuro. O verdadeiro desafio de quem está
desenhando um processo de aprendizado é preparar os alunos para um mundo
que não podemos ainda imaginar como vai ser”, afirmou Waniewski em
entrevista ao
Porvir.
Segundo o professor brasileiro Mota, os designers de
currículo surgirão naturalmente, aprendendo de forma involuntária, na
prática. “Ainda é uma incógnita saber se as universidades estarão
preparadas para formá-los. Desburocratizar o currículo nacional seria
fundamental para que esses profissionais conseguissem remodelar seus
planos de aula, além de criar programas e disciplinas mais dinâmicas,
tornando-os também mais empoderados”, afirma
http://noticias.terra.com.br/educacao/professor-do-futuro-sera-um-designer-de-curriculo-afirma-especialista,a8e3e6fc8923e310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html